José, o filho mais amado por Jacó entre seus doze descendentes, e sonhador, pois sonhara com situações em que seus pais e irmãos se prostravam em solo na sua presença, por esses suscitou o descontentamento dos seus irmãos, ao ponto de certa feita os outros filhos de Jacó intentaram contra a vida de José, e depois lançaram-o numa cova, na ocasião em que passara por ali uma caravana de mercadores, os irmãos de José o venderam por 20 moedas de prata, assim o mancebo preferido de Jacó (também conhecido por Israel) descera para o Egito. José, homem temente a Deus, sempre se destacara entre os seus irmãos, e por terras distantes, sua sorte não foi diferente entre os demais servos. Vindo o sonho das vacas gordas e vacas magras, o qual tirou o sossego do rei do Egito, ele o interpretou, então alcançou graça perante os olhos do Faraó e tornou-se governador do Egito.
Com o advento do tempo das vacas magras os habitantes de outras cidades circunvizinhas foram obrigados a irem até o Egito, a fim de comprar-lhes mantimentos, tendo em vista que o mundo estava em completa escassez. Certo dia desceu ali a família de José (os hebreus), mas não o reconheceu, sendo ele governador se prostraram diante dele, e o sonho daquele menino sonhador tornara realidade. Tendo um dos seus como chefe de Estado, a família de Israel fizera no Egito a sua nova morada. Os descendentes de Israel se multiplicaram; mais tarde com a morte de José e surgimento de um novo rei, o povo hebreu passou a ser perseguido, e ali ficaram na condição de escravo, o novo Faraó temia que os israelitas tornassem um exército, juntassem com os inimigos do Egito, se rebelassem, e tomassem as terras, logo mandou que se matasse todo filho homem nascido de mulher hebréia. A mãe de Moisés (tirado das águas) betumou um cesto colocou-o e lançou no Rio Nilo, a filha de Faraó ao banhar-se achou a criança, a irmã de Moisés era escrava da filha do Faraó, então convenceu que sua própria mãe criasse o menino, mais tarde a mãe de Moisés viera a devolvê-lo para a princesa.
Moisés fora criado como um filho, tanto pela mãe biológica, que apenas lhe amamentava e tomava de conta a mando da princesa egípcia, como pela mãe adotiva, certamente o menino fora instruído nas doutrinas hebréia e egípcia; certa vez o hebreu tirado das águas flagrou um soldado egípcio maltratando um escravo hebreu e o matou, posteriormente fugira. As escrituras sagradas nos relatam que Deus convocou Moisés para voltar ao Egito e libertar os outros israelitas que ali pereciam nos açoites, e ele foi ter com o Faraó determinando o que Deus tinha lhe ordenado, e cumpriu o designo do coração de Deus.
A história do hebreu Moisés nos remete a conhecer duas zonas de conforto, a primeira como filho da filha de Faraó, usufruía de mil mordomias, já a segunda como num lugar bem distante do Egito, longe de algumas situações adversas; mas o chamado de Deus para com o hebreu mobilizou-o das suas zonas de conforto, poderia ele permanecer numa ou noutra, qualquer que escolhesse ficaria isento tanto dos problemas que o chamado geraria, como dos problemas que oprimia seus co-sanguíneos. Porém resolverá não optar nem por uma nem por outra, voltara até o rei e intercedera pela libertação dos seus irmãos, e os libertou.
Conhecemos outros relatos na história da humanidade, outros personagens resolveram sair da sua zona de conforto, diga-se até, por isso alguns pagaram com a sua própria vida. Robin Hood desafiou o reinado de Eduardo II da Inglaterra no início do século XIV e seus absurdos impostos, saqueava os cavaleiros do rei que levavam consigo os impostos abusivos cobrados dos pequenos proprietários daquelas regiões, e os devolvia.
Nos dias de hoje deparamos com duas histórias bem avessas a do hebreu e a do cavaleiro inglês. O cenário aponta para busca do abrigo na zona de conforto, infelizmente muitos dos que deveriam estar lutando junto às causas populares e dos trabalhadores preferem migrar para as atuais zonas de conforto, eles recebem mil e um benefícios, vantagens,... até mesmo dos governos, migram para zonas de conforto dos palácios, os poucos lugares neste mundo onde há verdadeiramente sombra, água fresca, e muito mais, convivem amigavelmente e trocam favores com “os faraós”, enquanto isso o povo é chicoteado lá fora, e obrigado a produzir sempre mais, eles mudam o discurso repentinamente e passam a defender a “coroa” ou o “faraó” ao invés dos seus “irmãos hebreus” e os “pequenos produtores”, estes até parecem “hebreus” como nós, na verdade queriam ter sido achado no cesto betumado de Moisés e serem criados dentro dos muros dos palácios, quando indagados a cerca de nossos anseios e lutas dizem “concordo”, como se pode agradar a dois senhores?
A outra zona de conforto que me refiro é tão danosa quanto à primeira, vamos denominá-la como a zona do medo, somos tantos como os hebreus, podemos formar um grande exército, no entanto continuamos a se denominarmos de poucos e fracos, subserviente a todos os mandos dos castelos, achando não sermos capazes de levantarmos e alcançarmos tanto ou mais do quanto almejarmos. Os faraós sabem o quanto somos e qual é a nossa força, prova disso é que continua alistando muitos dos nossos irmãos “hebreus” para forjarem contra nós dentro dos nossos próprios muros, eles continua no nosso meio, não como um Moisés que um dia suscitará a nosso favor, mas como o outro judeu que andava com Jesus e um dia beijou o seu rosto.
“Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro, não podeis servir a dois senhores” (Mateus 6.24).