RESUMO:
Estudos
mostram que para gerenciar a assistência de enfermagem, o enfermeiro
utiliza métodos e estratégias de gestão oriundos da teoria clássica
da administração. Este estilo de gerência não tem permitido aos
trabalhadores de enfermagem criarem espaços coletivos de gestão, onde
possam atuar como sujeitos sociais. Partindo do princípio de que a
gerência em enfermagem necessita, na atualidade, ser vista e
exercitada sob um novo olhar, procurou-se neste ensaio teórico
elaborar uma reflexão acerca desta prática, utilizando os conceitos
de sujeito social e de coletivo, que são fundamentais no campo da
Saúde Coletiva. Assim, aproximar deste campo, além de contribuir para
ampliar os conhecimentos e os questionamentos acerca da temática,
contribuiu também para compreender a equipe de enfermagem como um
coletivo de sujeitos sociais em ação, visto que os trabalhadores são
seres humanos dotados de interesses próprios, de necessidades e de
desejos, que produzem relações sociais, na medida em que interagem
constantemente com outros sujeitos e podem adquirir capacidade para
intervir na sua realidade. Este coletivo organizado possui como
objetivo principal a prestação de uma assistência integral à
população, realizando ações de forma ética, digna, segura e
humanizada....Desde o início da Era Cristã e durante
toda a Idade Média, o trabalho da enfermagem era pautado no modelo
religioso, que se restringia à caridade e ao conforto da alma dos
doentes. Mas, a partir do século 19 na Inglaterra, a enfermeira
Florence Nightingale com sua vocação para cuidar dos doentes, sua
determinação para institucionalizar a profissão de enfermagem e a
experiência que adquiriu durante os estágios que desenvolveu com as
diaconisas de Kaiserwerth na Alemanha, configurou um outro processo
de trabalho para a enfermagem, a partir das suas propostas de
reorganização dos hospitais militares, implementadas durante a guerra
da Criméia. Além disso, esta enfermeira institucionalizou o ensino
de enfermagem, criando a primeira escola em 1860, que formava as ladies nurses para se responsabilizarem pela administração dos hospitais e as nurses para prestarem assistência aos pacientes...Historicamente as enfermeiras têm
adotado princípios da Escola Científica e Clássica da Administração
para gerenciarem o seu trabalho, tendo em vista a estrutura e
organização do Serviço de Enfermagem nas instituições de saúde (Fernandes et al.,
2003). Os princípios deste modelo de gerência foram preconizados por
Taylor e Fayol, em meados do século 19 e utilizados inicialmente na
organização do trabalho realizado nas indústrias. Contudo, a
administração hospitalar e conseqüentemente a administração em
enfermagem mais tarde também foram influenciadas por este estilo de
gerência (Spagnol, 2002)...Para Ferraz (1995), a lógica do controle
é uma característica marcante deste modelo de gerência que
influenciou a enfermagem, desde a sua institucionalização. Ressalta
ainda, que esta forma racionalizada de se organizar o trabalho,
determina aos trabalhadores a maneira de se executar as tarefas,
centralizando as ações do gerente na supervisão (controle,
grifo da autora deste trabalho) da sua equipe. Nesta perspectiva,
para gerenciar a assistência de enfermagem, o enfermeiro utiliza a
supervisão como dispositivo de controle do processo de trabalho e do
comportamento dos trabalhadores, dificultando o exercício da gerência
compartilhada...De acordo com Spagnol (2000) apesar das
contribuições do modelo clássico de gerência à organização do
trabalho na área hospitalar, ao longo do tempo, este tem produzido
efeitos negativos que prejudicam o processo de trabalho. Dentre eles,
cita as dificuldades para responder prontamente às necessidades dos
clientes e dos trabalhadores, interferindo de forma significativa na
qualidade dos serviços prestados, pois o trabalho da enfermagem é
desenvolvido, mecanicamente, sem maiores vínculos com os clientes e
com os problemas do cotidiano...Este estilo de gerência adotado pela enfermagem foi descrito e criticado por vários autores como: Santos (1986); Trevizan et al. (1991); Carrasco (1993); Collet et al. (1994); Ferraz (1995); Fávero (1996); Bellato et al.
(1997); Lima, M.A.D.S. (1998); Lima, R.C.D. (1998); Spagnol (2002),
entre outros, que defendem e apostam numa outra configuração para a
gerência em enfermagem nos serviços de saúde.
Corroborando
com estes autores e pensando na formação dos futuros enfermeiros,
bem como na qualificação das práticas da enfermagem, pergunta-se:
como buscar uma outra configuração para a gerência em enfermagem que
não esteja pautada nos princípios da Teoria Clássica da
Administração? Como delinear uma outra prática gerencial para o
enfermeiro que seja alternativa a este modelo tradicional de gestão e
ao mesmo tempo esteja comprometida com a vida dos clientes e dos
trabalhadores?Estas questões são significativas e têm
trazido alguns incômodos a determinados profissionais e intelectuais
da saúde, os quais têm constantemente questionado a pertinência e
adequação deste modelo tradicional de gerência na sociedade
contemporânea, uma vez que este foi criado para atender as demandas das
indústrias, em meados do século 19, sendo posteriormente adotado e
adaptado para o setor saúde...
Fonte:http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232005000100019&script=sci_arttext
"A lógica capitalista encontrou, ainda, “terreno fértil” na
enfermagem brasileira, que tem suas raízes no sentimento de
religiosidade, que muito marcou seu espírito até hoje. Ressaltavam-se
como as qualidades do bom profissional a obediência, o respeito à
hierarquia, a humildade, o espírito de servir, disciplinado, obediente e
alienado. Em função disso, até hoje, os trabalhadores da enfermagem
enfrentam sérias dificuldades de ordem profissional, com uma organização
política frágil, com baixa remuneração e quase sem
autonomia(LAUTERT,1995)
Lautert L. O desgaste profissional do enfermeiro. [tese]. Salamanca:(ES): Universidad Pontifícia Salamanca; 1995."
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